Mobilidade e permanência: o campus universitário em direção a uma sociedade justa e solidária
Sobre o projeto
- Palavras-chave:
campus universitário; mobilidade urbana; permanência estudantil
- Equipe:
Camila Poeta Mangrich
Adriana Marques Rossetto (orientadora)
Maíra Longhinotti Felippe (co-orientadora) - Tipo de pesquisa:
Projeto de Tese (2021-2024)
As universidades públicas brasileiras apresentam-se em um momento ímpar para avançar nos ideais de sociedade projetados na Constituição Federal de 1988. A renovação da Lei de Cotas e o fortalecimento da diversidade no campus abrem oportunidades para refletir sobre demandas, potencialidades e lacunas herdadas de históricas decisões políticas do país. A tese procura contribuir para essa reflexão, evidenciando pontos críticos e potenciais de reversão nos territórios universitários, na relação do campus com a cidade e com as dinâmicas dos estudantes. No Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), transporte público e inclusão digital destacam-se como ações ainda latentes na reestruturação do campus para garantir a permanência estudantil. A mobilidade urbana se insere nesse desafio pois incita a urgência de políticas transversais para a redução simultânea das desigualdades sociais e danos ambientais. Por outro lado, o ensino remoto emergencial, implantado em 2020, acentuou desigualdades e evidenciou a interdependência de ações em assistência estudantil e a importância do espaço físico do campus para viabilizar o acesso e permanência dos grupos vulnerabilizados.
A tese parte da premissa de que recursos e iniciativas para uma justa distribuição da infraestrutura da universidade, considerando a reversão da matriz viária dominante marcada pela expressiva concentração de automóveis no campus, é essencial para abrir espaços para a permanência estudantil, a interação social e o intercâmbio de saberes. O objetivo geral é analisar o alcance de políticas públicas e objetivos constitucionais no campus universitário, com base nas condições de mobilidade e permanência estudantil no município sede da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Uma pesquisa realizada em 2020 pela UFSC trouxe informações relevantes sobre a desigualdade de condições entre graduandos. Com métodos mistos de pesquisa explanatória, as camadas demográfica e territorial do Campus Trindade serão investigadas através da análise qualitativa de dados quantitativos.
Em uma releitura do relatório institucional, os resultados demonstram baixa representatividade de grupos de menor renda em formações privilegiadas no mercado. Em oposição, uma amostra significativa desses estudantes nos cursos vinculados à educação declarou condições insuficientes para estudar em casa na pandemia. As respostas sobre os meios de transporte predominantes indicam uma área superior a 2 hectares para estacionamento de automóveis privados de estudantes, sobretudo dos centros com cursos mais valorizados. Cruzando essas respostas aos Códigos Postais das moradias dos estudantes, observa-se que os provenientes de famílias de maior renda residem no entorno do campus ou na região central de Florianópolis e utilizam carro próprio; enquanto os que declararam renda inferior a um salário-mínimo percorrem de ônibus longas distâncias até o campus. Ao evidenciar a realidade de grupos periféricos, os resultados demonstram que, mesmo com ações de inclusão digital e subsídios financeiros para a permanência e mobilidade, a democratização de acesso ao ensino superior exige uma justa distribuição do território universitário. Sob uma visão ética subjacente, a pesquisa procura destacar o potencial latente a ser explorado no campus para estimular o diálogo, o senso de cooperação e alinhar a missão da universidade ao ideal de uma sociedade justa e solidária.